sexta-feira, 22 de março de 2013

Carta para um homem que já morreu e umas verdades vivas

Depois de sua morte, as coisas mudaram um pouco. Não costumo escrever para quem já morreu, mas nunca vi uma morte trazer tantas mudanças. E das boas.
Bom, por onde começar?!
Primeiro que calçaram a minha rua que você tanto reclamava, porque possuía muitos buracos e você detestava ruas com muitos buracos. Assim que vi a rua sendo "reformada", não lembrei de outra coisa a não ser você, quis muito te contar a novidade, mas lembrei-me que você tinha morrido. E não contei.
 A minha vizinha chata e fofoqueira se mudou. Sem mais nem menos. Quando acordei, o carro de mudança tava na porta da casa dela. Pensei em te contar também, mas aí, já viu né, lembrei o acontecido. Comprei o que sempre quis comprar na minha vida e que não comprava porque você não gostava: um poodle. Não sei o porque de seu pavor por animais, mas nunca vi um animal para me fazer tão bem.
Ah, cortei meu cabelo também. Curto. O que você, claro, detestava. E vi o quanto eu ficava bem de cabelo curto. Então, pensei em quanta coisa não tinha vivido enquanto você estava vivo. Decidi fazer tudo aquilo que não vivi com você. Fui aprender a falar francês, me matriculei em uma aula de dança e de Pilates. Conheci pessoa novas, visitei vários lugares sensacionais. Li livros e reli quase todos. Foi um up total em minha vida. Eu estava feliz. Me sentia feliz depois da sua partida.
Até que chegou o dia que fez um ano de sua morte. Um ano. Parei, finalmente, para refletir o quanto tua ausência não me causou. O quanto tua ausência não me fez mal nenhum. E eu, que pensei que não poderia viver sem você. Muita coisa aconteceu em um ano, e pude obter a primeira lição de muitas que terei na vida: não faça da sua felicidade, uma pessoa. Não dependa de alguém para ser feliz. Torne você, a sua felicidade.
Tive que te fazer um homem morto, para eu ser uma mulher viva. Tive que te matar em mim, para assim, eu ser feliz.


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