quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Nuvens

Às vezes fico querendo me enlaçar e falho: as asas que criei não sabem pairar, só sabem voar longe onde ninguém mais tem coragem. O que é uma pena, porque a visão aqui de cima é incrível e meus pés, que não podem se prender ao chão, sentem falta de um outro par nas noites frias. É uma pena navegar sozinha num céu tão cheios de novidades e desafios.
Vai que um dia outro pássaro louco cruza teu caminho, eles dizem. Vai que. E eu me pego pensando se existe mesmo alguém em algum lugar capaz de acompanhar o ritmo destas asas. Vai que um dia ele aparece. Vai que.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Medo

Tenho um puta medo das coisas não darem certo. Ufa. Desabafei. Sinta-se querido e privilegiado, querido leitor. Nunca ousei falar isso para ninguém. As vezes, ou muitas das vezes, uso uma capa que tenta demonstrar a minha segurança(não tão segura assim) em tudo que faço, pelo simples fato de não querer transpor o medo extremo que tenho de no final tudo desmoronar e eu ficar de cara no chão, igual uma idiota. Talvez seja a falta de fé que tenho de acreditar que eu sou capaz de fazer acontecer tudo aquilo que planejo. Mas é que a vida prega peças que nos deixam de mãos atadas. Ou soltas. Sem saber o que fazer. Tenho medo de ser pega de surpresa quando tudo tiver indo bem, tranquilo. 

Só que tem dias que você quer expor o que realmente passa na sua cabeça, o que realmente você vive e o que realmente você é. E o que também, nesse caso, não quer ser. Existem dias que você não consegue mais transpor uma imagem de pessoa segura pelo simples fato de você não ser uma pessoa segura e não conseguir mais fingir isso. Não ter mais êxito nesse fingimento que só destrói, aos pouquinhos. 

Mas, above all, não quero sustentar uma imagem de uma pessoa sofrida e infeliz. Não. Só uma pessoa que precisa de um pouco mais de fé e coragem em acreditar que, algumas vezes, a vida é boa contigo e o final é feliz. Exatamente como imaginado.


domingo, 31 de maio de 2015

Tudo bem.. Mas está tudo bem mesmo?

Terminei o namoro. Meus pais se separaram. A minha irmã mais nova está doente. Meu irmão saiu de casa com a namorada e não quer mais voltar. Meu cachorro morreu. A minha casa, um lixo. Meus estudos, um desastre. Minhas amigas são falsas. Não tenho paz. Minha saúde emocional está instável. Minha vontade é de fugir para um lugar que eu me sinta melhor, mesmo eu não tendo nenhum.
E, mesmo assim, com tudo isso acontecendo, quando me perguntam se vou bem.. bom, você sabe: sim, muitíssimo bem, obrigada.

E assim é meu dilema de vida: a imensa vontade de expor meus anseios, meus medos, minhas aflições, minhas dores para seja lá quem for, e a patética e falsa resposta que soa melhor aos ouvidos de quem pergunta - sem a minima vontade de saber, realmente. 

Faz parte da conduta moral e dos bons costumes perguntar se a pessoa está bem? Mesmo não querendo saber? Ou é alguma dessas regras de etiqueta? Alguém pode me responder, por favor? 

Não entendo. 

Somos forçados a responder falsamente a mais incoerente pergunta que já existiu, uma pergunta que diferentemente do que deveria ser, terminou sendo retórica: "perguntei, mas não quero saber. Fica pra você mesmo."

Não seja tão egoísta ao ponto de perguntar e não querer ouvir: é só não perguntar.
Até porque você estaria disposto a ouvir uma pessoa que responderia com sinceridade a sua pseudo-preocupação?

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Des-apego

As vezes precisamos nos desapegar de algo que está enraizado dentro de nós. Precisamos dizer adeus a tudo aquilo que nos destrói e nos faz sentir pequeno diante o mundo. Necessitamos seguir adiante para conseguir coisas melhores e prósperas, mas nada disso ocorrerá se nós alimentarmos o que nos prende ao passado. Passado é feito para ficar no passado. E nada do que já foi um dia, será novamente. Tudo muda e nada acontece do mesmo jeito duas vezes. Portanto, não te apegues a coisas que te impeçam de prosseguir, não te apegues a momentos que te impeçam de viver melhores momentos, não te apegues a memórias que te impeçam de ter novas memórias.
Liberta-te dos apegos que te destroem.

sábado, 16 de agosto de 2014

O não mais


Então por fim, percebi que não era protagonista de minha própria vida. Percebi que a felicidade de alguém era mais importante e satisfatória que a minha.
Vi, que nada sobre mim tinha graça, mas sobre alguém...Dou risada.
Fui obrigada a readaptar minha própria vida; a mudar minha rotina, meus dias, minhas idas.
Sou o sol que insiste em se esconder.
Sou a luz que ninguém quer receber.
Sou quem todo mundo vê, e não faz questão de rever.
Me escondo atrás do véu, para que ninguém perceba, que tudo de bom que vem, sou eu quem deseja.
Nasci apenas para ver tudo que amo, ser de outra pessoa.
Nunca vi a vida ser comigo como é pra todo mundo. Nunca tenho a opção de ficar, mudar. Sempre me obrigo a ir embora. A dizer adeus, quando necessito ficar.
Mas eu vou, com um sorriso no rosto, mesmo que por dentro tudo esteja morto.
Com todo o tempo que tive, percebo que o que queremos é sempre incerto. Mas a certeza sobre ele é sempre real. O certo nem sempre justifica o incerto. De todas as incertezas que tive, e de todas as escolhas que me trouxeram até aqui, só aprendi a deixar pra lá, e ir.
Tenho me doado tanto que de mim só tenho o resto. Importante citar, que me doo apenas a quem não se interessa sobre quem sou. Tenho o péssimo habito de querer estar num mundo que não me encaixa. Que não é meu. Na verdade, sempre me sinto assim, deslocada, sem lugar, intrusa. Mero figurante de uma vida que poderia ser minha.
Metade de mim quer amar, ser amada. Parte de mim quer ficar.
Mas o medo da magoa me impede de enraizar.
Fugir e sumir é sempre mais fácil. Mais prático.
Metade de mim é amor, a outra metade medo de amar.
O incerto nos faz cegos quanto aos danos, efeitos e consequências que trazem.
O incerto é belo, é sincero.
Mas é miragem.
É mentira.
De tudo que vi, de tudo que ouvi, que senti ... Nada renovou minhas esperanças de que viver fosse algo realmente bom. Da vida não vi cor ou sabor. Apenas a dor de estar sozinho na imensidão do universo.
Apenas o medo por não entender o que realmente é tudo isso. Das pessoas, não tirei nada de bom, só pensamos em nós mesmos, e no que é melhor para nós.
Ninguém se importa conosco como juram importar.
De certas e certas escolhas, percebi que nem sempre o certo justifica o incerto. O reto nem sempre condiz com a gente. O bem nem sempre é o que atrai a mente. Só quero o incerto por não tê-lo.
Talvez, por não ter o habito de desabafar e lamentar sobre os maus ocorridos que me cercam, seja mais difícil pra mim esquecer e seguir em frente.
Infelizmente, certas coisas doeram e doem tanto, que eu prefiro estar em off por dentro. Ignorando a dor e todos os meus sentimentos.
Meu coração é a nuvem escura que existe em mim.
Meu coração é frio e inconsequente.
Meu coração é o órgão mais doente em mim.

Sarah

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

A saudade que gosta de ser lembrada

Saudade é um preguinho em nosso pé. Um preguinho mesmo. Do tamanho de nada. Aqueles que a gente bota nas havaianas quando elas se toram. Sabe como é né. 
Se brincar, um preguinho menor ainda. Tão insignificante igual a um grão de arroz. 
Mas de insignificante só o tamanho mesmo. Porque quando prega em nosso pé, ah, que dor..
Saudade é um vidro em nosso pé. Um caquinho de vidro. Tamanho de nada, coitado! Da nem para ver se cair no chão. Mas se pega no pé.. corta, machuca, dói.

Mas a diferença que existe entre o vidro, o prego e a saudade, é que o vidro e o prego a gente pode tirar do nosso pé, já a saudade.. não.
Por onde a gente andar a saudade fica ali, grudadinha com a gente. Por mais que tentem tirar e, com tanto esforço, consiga.. ela volta. E volta nas horas mais convincentes: nas horas que a gente esquece dela. 
Parece que ela gosta de ser lembrada.
Gosta tanto que criaram um dia só pra ela. Que coisa!
A maldita saudade não me solta nunca..

sexta-feira, 22 de março de 2013

Carta para um homem que já morreu e umas verdades vivas

Depois de sua morte, as coisas mudaram um pouco. Não costumo escrever para quem já morreu, mas nunca vi uma morte trazer tantas mudanças. E das boas.
Bom, por onde começar?!
Primeiro que calçaram a minha rua que você tanto reclamava, porque possuía muitos buracos e você detestava ruas com muitos buracos. Assim que vi a rua sendo "reformada", não lembrei de outra coisa a não ser você, quis muito te contar a novidade, mas lembrei-me que você tinha morrido. E não contei.
 A minha vizinha chata e fofoqueira se mudou. Sem mais nem menos. Quando acordei, o carro de mudança tava na porta da casa dela. Pensei em te contar também, mas aí, já viu né, lembrei o acontecido. Comprei o que sempre quis comprar na minha vida e que não comprava porque você não gostava: um poodle. Não sei o porque de seu pavor por animais, mas nunca vi um animal para me fazer tão bem.
Ah, cortei meu cabelo também. Curto. O que você, claro, detestava. E vi o quanto eu ficava bem de cabelo curto. Então, pensei em quanta coisa não tinha vivido enquanto você estava vivo. Decidi fazer tudo aquilo que não vivi com você. Fui aprender a falar francês, me matriculei em uma aula de dança e de Pilates. Conheci pessoa novas, visitei vários lugares sensacionais. Li livros e reli quase todos. Foi um up total em minha vida. Eu estava feliz. Me sentia feliz depois da sua partida.
Até que chegou o dia que fez um ano de sua morte. Um ano. Parei, finalmente, para refletir o quanto tua ausência não me causou. O quanto tua ausência não me fez mal nenhum. E eu, que pensei que não poderia viver sem você. Muita coisa aconteceu em um ano, e pude obter a primeira lição de muitas que terei na vida: não faça da sua felicidade, uma pessoa. Não dependa de alguém para ser feliz. Torne você, a sua felicidade.
Tive que te fazer um homem morto, para eu ser uma mulher viva. Tive que te matar em mim, para assim, eu ser feliz.